Tecnologia do Blogger.

“Escrevo simples, não enfeito”

Por Carolina Natal
13/08/2007


Exposição da Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa, São Paulo.

Ao ouvir essa frase da própria autora (que virou título deste pequeno texto), contida num vídeo exibido na Mostra, fui tomada por uma alegria fugaz, mas profunda, por identificar-me com tal pensamento.
A verdade é que somos engolidos continuamente por uma pressão não só externa; em que é necessário que se produza, que se mantenha em contínua atividade de criação, como também pela pressão de nós mesmos, inicialmente autores das obras ainda invisíveis ao público, ainda em estado de gestação, de amadurecimento.
Neste período de invisibilidade da obra, ou seja, época em que ela ainda está sendo construída, o imaginário do autor percorre por espaços movediços, por idéias flutuantes, e por suportes às vezes desnecessários. É natural que durante todo o processo de criação as reflexões tomem rumos que se transformem diariamente, modificando as funções iniciais e tirando os “excessos” que vão sendo revelados por si só, pelas percepções e pela constante instigação das intenções.
Na Exposição, deparo-me com paredes que são “enfeitadas” pela “simplicidade” das palavras de Clarice. Ao inverter essa frase descubro que o simples torna-se o adjetivo do próprio enfeite, neste caso, o pensamento de Clarice expresso por suas palavras.
Em cada frase observo a profundidade da natureza intensa desta autora, defrontando-me com sua verdade da maneira mais crua e pura. Ao mesmo tempo em que provoca um estranhamento pelo modo aparentemente inerte em que lida com suas reflexões, Clarice encanta-me justamente pela capacidade de atingir tanta intensidade utilizando-se de algumas poucas palavras, mas que dizem tudo.
Parece-me que ela lida muito bem com os tais suportes desnecessários, tanto que nem os utiliza. Despoja-se facilmente escrevendo sua percepção simplista!