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RUÍDOS DO CORPO - Texto sobre o espetáculo “APT” – concepção e performance: Talita Florêncio e Thiago Salas

 por Carolina Natal
17/06/2017

Esta resenha compõe o Festidança (2017) realizado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo - São José dos Campos - SP. 

A obra Apt, com performance e concepção de Talita Florêncio e Thiago Salas, propõe um espaço em que se interligam as ações entre corpo, som e objeto. Esses três elementos são somados à participação da tecnologia, que promove uma ponte fundamental entre essas relações.

Talita está sentada em uma cadeira e tem fixada ao seu corpo sensores, que são conectados por um fio ao computador de Thiago. Esses dois performers estabelecem uma parceria de ação e reação. O som tem uma particularidade eletrônica, soa como ruídos, com intensidades ora mais pesadas, ora mais leves, mas aparentemente abstrato. É um som que não tem a intenção de compor uma melodia, pelo contrário, ele produz uma sonoridade específica que só se faz alcançada diante desta relação.

Fotografia: Paulo Amaral

A intérprete se movimenta, sentada na cadeira, entrelaçada pelos fios conectados ao seu corpo. A composição da sonoridade se dá por este sensor que envia comandos de seu corpo ao computador. Ou seja, não é ela quem recebe informações que se traduzem em movimento. É o dispositivo que recebe as informações de seu corpo e repassa-as para o ambiente sonoro e este é moldado segundo seu movimento. Essa obra tem um caráter experimental, em que os performers lançam esses aparatos que produzem respostas e condicionam uma arte sonora. São ruídos do corpo que se projetam em forma de som.

A possibilidade coreográfica se constrói também pelo som que é produzido, como resposta ao corpo, provocando improvisos que fazem parte da partitura experimental do trabalho.

Fotografia: Paulo Amaral
Talita retira esses sensores conectados ao seu corpo e se relaciona, então, com uma sucata, um objeto circular em que ela vai moldando, inserindo-se, atravessando-se nele. Este objeto também está conectado ao computador e emite um som. Ela manipula esse objeto utilizando-se uma tensão corporal para modificar sua forma. Ao tocá-lo ou tocá-lo no chão, essa sucata se amplia pela sensação sonora. O ruído emitido desse objeto remete a um corpo pesado, um gigante. E esse som que se reproduz de forma tecnológica repercute na próxima movimentação gerada pelo corpo da intérprete.

Apt é um experimento interferência que não se resume a produzir efeitos sonoros a partir do movimento da bailarina, mas esse jogo se integra de tal forma que o movimento se afeta pelo som e vice-versa, de forma bem intimista, entre os performers. E, neste sentido, é possível que cada espetáculo tenha brechas para que novas percepções se integrem de forma a modificar, sutilmente, a estrutura prevista. Possíveis acasos podem produzir novas epifanias nesses ruídos do corpo, tanto em forma de som quanto de movimento.